naia alban
largo de são miguel
(2008)
Mais do que um simples alargamento de rua, o Largo de São Miguel é um ponto de confluência de várias ruas – Poeira, Fonte Nova do Desterro, Ladeira de São Miguel – que desembocam na Baixa do Sapateiro, uma das primeiras articuladoras de vale de Salvador. Um ponto de confluência entre as duas cumeadas, Centro Histórico e Desterro. Local ideal para parar, depois de uma descida, descansar, respirar e subir, seguindo a direção pretendida.
O que faz deste largo ponto de confluência, passou a prejudicá-lo, espacialmente, pois as várias circulações viárias sobrepostas subdividem todo o espaço, fragmentando-o, de uma maneira tal, que o seu sentido de unidade espacial desaparece. À esta frágil espacialidade foi somada uma demanda urbana decorrente de sua localização estratégica (saída de importância para o tráfego que circula no Pelourinho). Por conta disso, foi reconstruído um posto policial, equipamento de importância para o sistema de segurança da cidade que, entretanto, se impôs como mais um motivo para a sua desestruturação espacial, seja por sua implantação equivocada, seja por sua baixa qualidade arquitetônica.
Neste sentido, o projeto mantém o posto policial enquanto equipamento, por entender a importância estratégica do lugar, integrando-o, porém, à espacialidade do largo. Esta espacialidade, por sua vez, reestrutura-se a partir do eixo do edifício pontiagudo e circular da esquina entre a Ladeira da Poeira e a Fonte Nova do Desterro. Este eixo é o ponto de partida para a recriação de um relevo, que faz brotar do solo o novo posto policial, provocando uma ambiência de intimidade para o interior do largo. E, consequentemente, um distanciamento do mesmo em sua relação direta com a Baixa do Sapateiro. Esta decisão projetual intenciona promover um reagrupamento dos fragmentos desarticulados existentes, reforçando o sentido público do largo.
Assim, o edifício materializa-se como um cubo pétreo, em pedra portuguesa, que brota do chão – também coberto por pedra portuguesa – criando, na relação com o edifício curvo, uma grande diagonal rampada. A intenção é clara: reforçar o lugar do transeunte a pé. O largo, além de articular seus vários caminhos de chegada, protege e define as áreas permitidas para os veículos.
No desenho do piso, através de faixa em pedra portuguesa na cor preta, em duas larguras distintas (20 e 40 centímetros), enfatiza-se este ponto de chegada, passagem e saída, traçando-se os vários fluxos, eixos e visuais sugeridos pela dinâmica urbana da Baixa do Sapateiro.